sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Da (des)esperança


Por vezes lamentamos os silêncios que impregnam as nossas vidas, mas com a certeza firme de não desejarmos uma orgia de ruídos sempre à nossa volta, impedindo-nos de nos sentirmos nós mesmos. O pior é sempre possível mas não é fatal que tal aconteça. Se nos lançamos na ação, se nos empenhamos, se a motivação existe e há um rumo, se sabemos o lugar para onde queremos ir, poderemos esperançar alcançá-lo.

Na medida em que o pior não é uma fatalidade é permitido termos esperança. E como o pior pode ser evitado, é urgente avançarmos com empenho naquilo que julgamos evitar a nossa infelicidade.

Para além do otimismo e do pessimismo, há sempre lugar para a esperança. Esta apoia-se sobre a confiança no possível ou no que poderá sê-lo. O tempo, de certa maneira, é uma criação do possível e é fácil entendermos que um dos grandes erros das utopias foi sempre o de tentar fixar, através da imaginação, o futuro ideal, o termo perfeito de qualquer história e até os meios para lá chegar. E tal forma de pensar, por vezes, impede-nos de apreciar com rigor o inesperado, o acontecimento que transforma o (nosso) horizonte previsível.

Mais grave que tudo é a tomada de consciência de não sabermos o que nos pode fazer felizes, nem quais os melhores caminhos para trilharmos. Resta-nos, então, a exuberante satisfação de podermos afirmar com veemência: «Eu não sei bem aquilo que quero, mas estou certo daquilo que definitivamente não quero.»

Para muitos, onde eu me incluo, só isto já é um começo, seja do que for.

Jorge Rebelo

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